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segunda-feira, 24 de setembro de 2012

UM POEMA.


descobriram o gesto da estátua,
e de pronto o negaram.
era tamanha escárnio, tal pestilência,
que dna. mariquita, sempre solícita,
não hesitou em ceder o seu impressionável xale preto
para cobri-lo.
correram a chamar o Juiz,
que do alto de seu nobilíssimo salto,
vociferou cinco infernos espicaçou o gesto e espalhou os restos
pelos postes nas estradas.

desde então,
em segredo o adoram
(o gesto).

domingo, 16 de setembro de 2012

Picôolé

...Foi o Evandro - Vandrinho, como todos o chamavam - um sabadão desses voltando da praia com o isopor vazio, um sorriso em forma de andorinha na cara, quem deu ao Pedro a ideia de ir vender picolé lá em Itaúna. - "Quanto você conseguiu hoje?" - "De lucro, dezoito reais!" - "Dezoito?!... Puxa!..." e aquele "puxa" trouxe toda uma contabilidade consigo... Dava pra realizar um sonho: comprar uma guitarra Insbruck, daquelas que eram anunciadas nas revistinhas de letras cifradas. Custava R$ 180,00, era juntar dez sábados, ou cinco sábados e cinco domingos, e tava feito o negócio! Não precisava nem comprar um isopor, pois havia um dando sopa em casa. O que faltava era o dinheiro pro investimento inicial, e pra isso num tinha jeito, o caso era de pedir pros pais mesmo. Emprestado. Emprestado, ele frisou bem. O pai deu, mais pra se ver livre da insistência do garoto do que botando fé que ele ia conseguir pagar. Deu dez reais - "Se você for sábio, e der duro, com isso você consegue a sua guitarra." - ele disse, mais pra cumprir um dever pedagógico do que convicto do que dizia. No domingo mesmo, dia seguinte ao dos dezoito reais de lucro, o Vandrinho levava o Pedro na sorveteria onde ele comprava os picolés. Dez reais davam pra vinte picolés, que, sendo vendidos a um real cada, renderiam vinte reais, dez de lucro. Ele pagaria o pai, e repetiria a operação no fim de semana seguinte. Não é preciso ser gênio matemático pra perceber que seria possível, com alguns dias de vendas, aumentar a quantidade de picolés, e consequentemente o montante de lucro. Chegando na praia, ali em Saquarema, no canal que separa a praia da vila da de Itaúna, os dois amigos se separam - "Eu vou fazer a vila" - diz o Vandrinho - "E eu vou pra Itaúna mesmo" - "Boa sorte!" - "Boa, pra tu também" - e lá se iam os dois. O Pedro sabia que o Vandrinho voltaria com mais dinheiro do que tinha quando foi, ele só não sabia como o menino fazia isso... Enfim, lá ia o Pedro, atravessando o canal. A praia tava cheia, isso era muito bom. Mas... aqui vale desenvolver toda uma tese sociológica: a dos esquemas de comportamento. Quando se é novo num negócio, tende-se a seguir o esquema já pré-existente naquele ambiente; bom, pelo menos esse é o caminho dos tímidos, por ser o mais seguro - o tímido está sempre se perguntando "o que vão achar de mim?", "o que fulano vai achar?", "o que beltrana vai achar?", e se ele fizer igual ao que se fazia antes dele, ninguém vai poder achar nada de ruim dele... Pois é, e o esquema mais simples ali, o mais neutro, não precisa esperar os picolés derreterem analisando, era gritar picolé e esperar ser chamado pelos banhistas. Os mais caras-de-pau, e portanto os que vendiam mais, abordavam - "Vai um picolé aí, moça? Vai um picolé, senhora?" - mas o Pedro jamais, jamais teria coragem de fazer isso. O negócio pra ele era gritar mesmo. Mas... e pra gritar?... Ele tentou uma vez - "Picolé!" e saiu baixinho, e como se ele fosse um galo matinal, logo um outro menino respondeu cum altíssimo "Picôolé". Ah!... Isso sim era grito de vencedor, digo, de vendedor de picolé!... O acento não era no "lé", mas no "cô", quem teria sido o gênio da propaganda que inventara aquele deslocamento de acento?... Bom, isso quem pensa sou eu, agora, escrevendo o conto, que o menino Pedro, nos seus doze anos de idade, não pensou isso não. Ele pensou mesmo foi um palavrão no lugar de "gênio". Que dificuldade!... Outro problema: ele não conseguia andar no meio do pessoal pegando sol, era ficar desviando toda hora, e as pessoas olhavam pra ele, e aquilo, aquilo... Aquilo era de matar prum tímido, ultra tímido!... Mas ele precisava tentar, precisava lutar!... Uma saída: andar na parte molhada da areia, onde aqueles restinhos de onda vêm acariciar os tornozelos das pessoas, e ficar sem gritar mesmo, já que não conseguia, de jeito algum. Até que - Shazam!... - ele ouvia uma voz de mulher - "Garoto! Ei, garoto! Você do picolé!" - era com ele mesmo, uma venda, uma venda!... - "Oi dona..." - "Quanto é o picolé?" - "É um real..." - "Tem de quê?" - e ele abria o isopor, e de repente, de repente... deitada, do lado da moça que comprava um picolé dele, tava uma outra moça, de barriga pra cima, joelhos dobrados, e um pequeno problema no biquíni: o fio que deveria estar tapando a vagina não estava exatamente no lugar, mas sim um pouco pro lado, e então... E então o pinto do Pedro, que já não era mais tão pequeno - ele tinha doze anos... - ficou duro. A moça que comprava o picolé viu, e deu uma risadinha só de ar. Ela viu o pinto dele duro, mas não viu a razão. O menino não conseguia se controlar, suando feito um cavalo de corrida, até que a compradora do seu único picolé se condoeu dele e disse - "Vai lá tomar um banho de mar, vai. Eu olho o seu isopor..." - e ele assentiu, e foi. Mas não tinha jeito, ele precisava ir logo pra casa, resolver aquilo... Voltou, pegou o isopor - "Brigado, moça" - e arriscou mais uma olhadinha... Não... a xoxota que ele vira já estava coberta... Pra casa, então!... Ele precisava dum banheiro, urgente! E foi assim que o Pedro chegou em casa cum sorriso de condor - "Quê isso, menino?" - perguntou a mãe - "Vendeu tudo, pelo jeito?..." - "Nada mãe. Vendi só um. A praia tava vazia. Preciso dum banho, suei muito." - e a mãe nem se tocou que aquilo era a coisa mais estranha do mundo, o filho dela dizer que precisava dum banho.
Pois é, amigo, iniciei novo parágrafo, pois o que aconteceu na sequência os homens que já foram adolescentes tão cansados de saber, e as mulheres cuja experiência ao lidar com o sexo oposto é pelo menos razoável também. O fato é que depois do banho, o menino Pedro pegou o isopor, sentou-se na frente de casa, e chupou os dezenove picolés, feliz da vida, e eu tenho pra mim que ele ter esquecido da guitarra num vai deixar ninguém intrigado...

sábado, 8 de setembro de 2012

English poem

I saw a star the other night
and I built with it a most beautiful lie
I took the white forms of a face
and I hit it with the fine blade of a phrase
it had the word "love" in it
(that'd make with nose a good rhyme here)
but I said it with eyes really open
cos' the shadows around me were growing
(that isn't past yet
but it's impossible not to go ahead)
but my point here is actually a simple thing:
the face is She, and She's meant to be.