Olha em meus olhos, anjinho,
Ou pousa tua mão delicada no meu lado esquerdo:
Tanto faz: é sempre a mesma pulsão,
Doída e desesperada,
De te ver sair, e mergulhar no mundo
Do incerto, do "quem sabe voltar a ver"...
Não suporto.
És tão, tão linda, anjinho,
Frágil e pequenina, tal flor recém-colhida,
Que me dá uma loucura de abraçar-te, e beijar-te ensandecido...
Voltarás um dia?
Estarás casada, com filhos, torradeira, carreira executiva, insights e cheque especial?...
Confesso: podia esperar-te três ou quatro séculos...
Mas tu foste embora, e não mais te vi...
Será que tomarei coragem, quando voltares,
E mostrarei aos teus olhos ainda tão juvenis
O quanto este verde par de velharias
Sofre por te ver?
Não sei.
Deveria?
Talvez.
Mas deixo, e é uma certeza,
Aqui este poema,
Para que em algum lugar, algum anjo de fato e de verdade
Concorde com ele e faça-o chegar até os teus ouvidos:
Seria como erguer uma ponte
Por sobre a solidão inexorável.
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