no espelho, teus olhos se confundem com os meus,
e um rosto disforme, com a pele pendurada em tiras sangrentas,
sorri mostrando presas cheias de baba;
a noite, lá fora, canta soprano, enquanto meu coração responde barítono,
e o coro é um uivo entristecido...
quantas misérias a vida, sempre ela, pode legar a um pobre diabo?...
sem querer estar longe, me afasto,
e querendo me afastar, me castro,
e tudo o que faz algum sentido é o sopro demoníaco
daqueles que jamais souberam o quão triste
é ser um verdadeiro, e sincero, eu lírico...
ah... a poesia...
plasmar em arte o que me consome,
será, algum dia,
remédio para fome tão implacável,
e dor tão lancinante?...
não sei...
e só assim posso terminar este poema,
este grito de pássaro abatido,
quando ensaiava um voo, um início de migração...
só posso terminá-lo assim:
deus não existe, e o diabo é o coração do homem.
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