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sábado, 9 de fevereiro de 2013
O DISCURSO DO LOBO ANDARILHO
Como é bom andar pelas matas, pelas trilhas que cortam as matas, pelas
calçadas cinzentas, a tentar, em vão, esconder seu passado em preto e branco! Andar,
simplesmente andar! Levo, sempre, a cabeça baixa... Se a necessidade de ser
humilde não é motivo suficiente, e ela certamente não é, contenta-te, amigo,
com a necessidade de se evitar as fezes, tanto as biológicas quanto as sociais.
Sim, eu disse isso. As biológicas são tanto de cachorro ou gato, quanto de gente.
E as sociais são gente mesmo, que a nossa grande, enorme, engenhosidade purgou
aguadas e amarelas, junto aos rodapés das lojas fechadas, sabiamente
fechadas... A gente só entende mesmo para que serve um pedaço de caixa de
papelão quando vê uma cena dessas. E o carimbo de “frágil” não é ironia: é
apenas reciclagem. Devia vir sempre acompanhado do made in... Ah,
como estou farto dos pseudo-argumentos “é preciso correr atrás!”, “se chegou a
esse ponto, a culpa com certeza é dele mesmo!”, “nenhum trabalho é vergonha!”,
e por aí vai! Quando é que nos aceitaremos humanos?!... Quando é que
compreenderemos que o crack, o vício corrosivo, está na esquina de
qualquer, qualquer casa?!... Seja ou não seja culpa dele, tenha ele ou
não tenha negado trabalhos por vergonha, é dever de quem evita pisá-lo evitar
algo mais: evitar a sua zoomorfização. Por mais sujo, é ainda um “primata
superior”, isto é, um dos nossos, e não um gambá... Dá tua mão a ele, amigo! É
preciso enxergar um como... Mas às vezes também levanto a cabeça! E os
rostos bem cuidados me inspiram afeto e alegria, sempre pontilhada de sorrisos.
Todos têm aparelhos, mas a maioria ignora isso... Me perguntarão: você vê seus
dentes com aparelho?... Respondo que não. Os meus são amarelos mesmo. E esse é
um dos principais motivos por que ando, ando constantemente. Preciso andar.
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