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quarta-feira, 20 de julho de 2011

PANORAMA LITERÁRIO

Pegando dois conceitos de Antonio Candido, o de sistema literário, e o seu oposto manifestações literárias, eu diria que o panorama literário brasileiro atual é o de um "sistema de manifestações", algo inédito, certamente, no país, uma situação híbrida. Explico. Até o concretismo, mais o menos fim dos anos cinquenta, e os anos sessenta, os escritores eram, no Brasil, uma classe na qual os membros se relacionavam, trocavam ideias e experiências, havia uma densidade, uma coesão que não há nos dias atuais. Havia, para usar o bom português, verdadeiros "clubes culturais", sobretudo no Rio de Janeiro, em torno da atividade jornalística. Hoje, ao contrário, os escritores engendram suas obras na solidão, sem, ou com pouquíssimo, intercâmbio intelectual "cara a cara", algo que estimule e, de uma certa maneira, condicione a escrita socialmente. O intercâmbio, e mesmo o aprendizado da escrita, no final do século XX (geração de 90) e início do XXI, se dá essencialmente pela leitura. O sistema literário pulverizou-se, atomizou-se. Os autores estão isolados, com poucas exceções, sem qualquer preocupação ou intenção de erguer "escolas". É a era das obras radicalmente personalísticas. Isso é bom, e ruim. Bom porque a criatividade, o bom gosto, e o talento, prevalecerão com cada vez menos enganos, e ruim porque muito se perde com a falta de diálogo entre criadores.

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