NIGHT HOUSE
Night
House
...Eles
vão descendo a Rua Augusta a pé, o colorido do néon dos letreiros das portas
dos puteiros iluminando a calçada. De frente duma barraquinha que vende
cachorro-quente e churrasco-grego e x-búrguer e pastel e batata-frita uma loira
peituda vestindo uma calça jeans e um
blusão de crochê cheio de furinhos por onde se pode cobiçar os bicos dos seus
peitos arreganha a boca em direção a um pastel oleoso de frango sentada num
banquinho. Mais abaixo um dos amigos entra num boteco pra comprar cigarros. De
lá de dentro sai uma loira tingida magra-barriguda que encosta no batente da
porta e fala pra ele – “Oi
garotão... entra mais e me paga uma cerveja, que tal?” – no que ele desconversa olhando pro chão – “Só tô esperando um amigo meu...” –
e ela solta uma risada catarrenta – “Riii... não gosta de mulher não, garoto?”
– e volta o rosto pra dentro do boteco gritando com voz esganiçada – “Ele aqui
não gosta de mulher não, aí!”. O amigo volta e continuam pela calçada. Doutro
lado da rua na porta dum puteiro uma mulata rebola devagar mostrando a calcinha
enquanto olha pra ele lambendo o beiço. Um negão com pinta de
Richard Pryor pára eles – “Peraí,
meus senhores, só um instantinho. Posso interrompê-los um instantinho só?... Tão
atrás de diversão, não tão? Hã?... Pois é, posso apresentar aos senhores o meu
estabelecimento? Só vou mostrar, não precisam pagar agora. Eu levo os senhores
lá dentro, vocês olham, vai ter um show agora
com o casal Andressa e Leandro, sexo ao vivo, tá, com penetração, com tudo, daí
vocês assistem, conhecem as meninas e, se gostarem do ambiente, vocês ficam. Só
paga o que consumir, tá. Vocês querendo ficar, vou cobrar uma consumaçãozinha
mínima de cinco reais, mas é só. Vocês gostando de alguma menina, e querendo
fechar o programa, o quarto é quinze reais, o resto vocês negociam com ela,
ok?... Vamos lá?” – e passam por uma portinha e detrás dela um balcão onde está
um sujeito de gravatinha borboleta que carimba os cartões de consumação e
entrega pra eles – “Pronto, podem entrar. Bom divertimento.” Entram pelo lado
esquerdo do balcão passando por umas cortinas roxas. À esquerda está o bar com
garrafas de tudo quanto é bebida e copos de tudo quanto é tamanho e formato
pendurados. À direita está um estofado de couro preto colado à parede apoiado
em tijolo e indo até o fundo onde mulheres loiras e morenas e mulatas e pretas
e novas e velhas usando vestidinhos e mini-saias vermelhos e pretos e
transparentes estão conversando e sendo apalpadas e lambidas por homens
cabeludos e carecas e grisalhos. No fim do bar de frente pro resto do estofado
está o palco iluminado por lâmpadas vermelhas e verdes e roxas e depois dele as
escadas que sobem à esquerda em direção aos quartos de cima e as escadas que
descem à direita em direção aos quartos de baixo. Das de cima vem chegando um
casal e o barman anuncia por um
microfone o início do show do casal Andressa
e Leandro. Eles dão uns beijinhos na boca um do outro, daí ela tira o sutiã e
ele chupa os peitinhos dela, daí ele tira a sunga e ela chupa o pau dele, daí
ela tira a calcinha e ele chupa o grelinho dela, daí ela levanta a perna
direita e ele mete o pau na buceta dela, daí ela deita no chão e dobra o
abdômen erguendo o quadril e esticando a perna direita pra direita e a perna
esquerda pra esquerda e ele mete o pau na buceta dela, daí ele levanta ela no
colo com as duas pernas bem abertas e a gente pode ver bem que ele mete o pau
na buceta dela, daí ela ajoelha e ele ejacula dentro da boca dela, e o barman anuncia por um microfone o fim do
show do casal Andressa e Leandro. Depois
do show uma puta de sutiã vermelho e
mini-saia preta olha fundo nos olhos dele enquanto bebe o que parece ser um Martini. Ele levanta e vai até ela e pergunta o nome dela ao que ela
responde que é Andressa e ele pergunta se todas as meninas que
trabalham ali são Andressas e ela responde que não que só ela e a do show. Os bicos dela fazem o ponteiro
dentro da calça dele apontar o norte magnético e então ele pergunta pra ela quanto é o programa. Ela responde que o
mínimo dela são cinqüenta reais e ele diz que só pode pagar quarenta e ela
diz que quarenta tudo bem mas só por que ele
é bonito. Ela pergunta então se ele quer ir direto pro quarto ou se não
quer bater um bom papo antes e ele diz que tudo bem um papo. Eles sentam e
ela pergunta o nome dele e o
que ele faz e ele diz que melhor mesmo é irem logo
pro quarto. Chegando
lá ela pede que ele espere um
pouco ali que ela vai buscar toalhas e então ele fica lá e cheira o
lençol e examina o travesseiro e resolve então tirar os sapatos e as meias e a
camiseta e esperar ela voltar deitado na cama. Quando ela aparece ela joga as
toalhas num canto e fica junto da porta já tirando a mini-saia e virando de
costas e tirando o sutiã rebolando devagar e depois tentando descer devagar a
calcinha que fica grudada no rego e ela puxa de leve e depois solta e depois
puxa e depois solta esfregando aquela tirinha de pano muito no rego e gemendo
que não tá conseguindo tirar e pedindo que ele ajude. Ele
vai até ela e ela empurra ele contra a parede e pergunta quantos anos
ele tem e ele mente que tem dezoito e ela pergunta se
ele tem namorada e ele mente que tem e ela pergunta então o
que um cara como ele tá fazendo num lugar como aquele e ele responde que – “Curiosidade. Quero
ver como é.”. Ela pisca um olho dizendo – “Entendi...” – e abre o zíper dele puxando o pau dele pra fora dizendo – “Eu vou ter que ser
melhor do que ela...” – e então ela abre a boca e engole metade do pau dele chupando indo pra frente e pra
trás enchendo o pau de saliva e lambendo e passando a língua no buraco do pau e
depois indo pra frente e pra trás de novo e mais rápido e apertando o pau e
mordiscando e indo pra frente e pra trás e mais rápido pra frente e pra trás e
apertando mais e ele fechando e depois abrindo os olhos e
olhando pros pentelhos dela e pensando que ela já deve ter chupado o pau de São
Paulo inteira e deve mesmo é ter chupado todo tipo de pau que aquilo é uma puta
vadia e que ele não devia tá ali e ela chupa mais
rápido e vai pra frente e pra trás apertando mais e então ele grunhe que vai gozar e ela tira a boca e ele esporra nos peitos dela e ela esfrega a porra pelos peitos e
pelo umbigo e ele senta no chão, e ela se afasta devagar,
e senta na cama, e ele olha pro chão, e ela limpa um resto de
porra com a toalha.
Ela
deita de lado na cama, apoiando a cabeça no braço, e olha pra ele, esboçando um sorriso, e ele nota que ela é bonita, e depois nota na dobra da barriga dela um
brilho de porra que vai secando, e de repente ele sente nojo, e olha
em redor, e vê que as paredes são na verdade divisórias de escritório, e de
todos os lados vem um barulho de corpos se batendo, e um cheiro de porra que
não é só da dele, e o nojo
cresce... Ele olha pra ela, e de repente ela é tão
bonita, que sente desejo, e sente nojo, e sente raiva, e sente vontade de
esmurrá-la... E depois... sente vontade de levá-la ao banheiro, e pedir que se
lave, e pedir que vista uma roupa comum, e chamá-la pra ir lá fora comer um
sanduíche, quem sabe uma pizza, quem sabe tomar um refrigerante... Ela o observa,
parecendo analisá-lo – “Que foi, benzinho?”. Ele responde que nada. Ela diz – “Não esquece que você ainda não
me comeu, hein?” – e passa a mão de leve lá embaixo – “Ainda nem tirei minha
calcinha...” – e ele apenas a
olha... E depois pergunta, a voz um tanto arranhada – “Por que você faz isso?”.
Ela desvia o olhar, levantando um pouco as sobrancelhas, e depois baixando, e
fazendo um beicinho, e suspirando – “É... não vai acontecer mais nada, não é?”.
Ele baixa a cabeça, e lembra de momentos antes em casa... Estava
falando no telefone cum amigo do colégio, que o chamava pra ir num puteiro, que
quase todos já tinham dezoito anos, só ele que não, mas – “Você pode usar sua
cópia falsificada do RG.”. Ele descolava cinqüenta reais com a mãe, e não se
agüentava: no banho, batia duas punhetas em baixo do chuveiro. Assim, sem
sequer cogitar quem seria a mulher que teria, se gordinha, magrinha, alta,
baixa, loura, morena, carioca, paulista, filha única... O que importava é que
ela teria uma xoxota, e ele pagaria sem questionar pra fodê-la... Isso foi o
que ele, no fundo, pensou, mas agora está ali... – “É. Acho que não...” – ele responde, e ela – “Tst, tst,
tst... Que decepção! você parecia prometer...” – “Pois é. Sinto muito.” – “Quer
saber, se você parar mesmo por aqui então lá fora eu vou falar pros seus amigos
que você não é de nada, mas de nada mesmo.” – “Vai em frente...”. Ela pára,
cruza as pernas em posição de meditação, e o olha, sorrindo – “Que acontece com
você, hein?...” – “Olha... eu acho... eu acho você bonita. E acho que você
devia fazer outra coisa, não sei... isso aqui é... estranho... é deprimente...
não sei. Pra ser sincero, só quero dar o fora daqui...” – “Ok!” – e ela dá um
longo suspiro – “Fim de papo!”. Ela se enrola na toalha, e pede que ele espere, que ela vai até o banheiro se lavar. Ele se veste, e dali um pouco ela volta, se vestindo também, e dizendo
– “Bom, são quarenta reais, né?” – no que ele responde que sem
problemas, e entrega a nota de cinqüenta pra ela, perguntando – “Você tem troco?”.
Ela olha e sorri – “Safadinho... vou precisar trocar, você espera?”. Por um
segundo, o sangue foge do rosto dele. Ela percebe, e emenda – “Pode ficar
tranqüilo que não vou te roubar, tá...” – e ele constrange-se que não, quê isso, tudo bem, e ela diz
baixinho, num tom de voz que parecia agora estranhamente frágil – “Me espera lá
com os seus amigos, que o tempo do quarto já acabou, tá?”. Ele volta pro estofado. No palco, um novo casal faz sexo enquanto
dança flamenco. Os amigos o rodeiam, e perguntam como foi. Ele diz que tudo bem, e suspira fundo – “Tô pregado...”. Dali poucos
minutos, ela aparece, com o mesmo sutiã, com a mesma mini-saia, exatamente como
antes... Só que diferente. Ela estende o troco a ele, e, quando ele pega, ela retém sua mão, acariciando-a
de leve, e diz, olhando em seus olhos e sorrindo um sorriso difícil e
imperfeito – “Obrigada”. Os amigos o olham, a pergunta vibrando no ar, que no
entanto ninguém faz, e ele jamais responde.
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