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sábado, 26 de maio de 2012

LITERATURA COMO UMA FORMA DE ASCESE

Escrever é muito, muito difícil. Escrever com originalidade, muito mais. Escrever com originalidade e beleza, uma tarefa hercúlea. E escrever com originalidade, beleza e acuidade (imprescindível na arte literária), aí... quase impossível. Mas há pessoas que conseguem. Pergunto: conseguirão sem esforço?
Há poetas - eu entre eles - que escrevem um poema em quinze minutos. Mas isso só acontece num estágio que sucede estudos prolongados e extenuantes, toda uma vida dedicada à descoberta e ao aprimoramento de uma voz literária. Uma vez encontrada essa voz, e lapidada, pode-se dizer que se torna mais fácil (menos difícil) a escrita (esclarecendo que não é porque determinada escrita se realiza rapidamente que se possa chamá-la de "fácil". Eu sou um que despendo uma quantidade enorme de energia em dez minutos de criação poética).
O fato é que são necessários anos e anos, décadas, para formar um escritor digno de ser lido. E uma solidão imensurável, toda uma gama de infelicidades e sofrimento que apenas em poucos casos acabam por se tornar benfazejos. Assim, se alguém enfim descobre que é um escritor, esse(a) "louco(a)" já está tão acostumado(a) a sofrer, que consegue (e só assim se consegue) enfrentar o processo de criação literária com "sucesso" (essa palavra tão na moda).
Ou seja: escrever é uma forma de ascese, e o artista da palavra tem de ser um asceta.  
O estudo escrito da alma humana só se transforma em arte após seu autor perder o que convencionalmente chama-se de felicidade (inclusive a esperança de). Após ele se metamorfosear completamente em freak. Após a vida, em quase todos os seus aspectos e vertentes, derrotá-lo inapelavelmente.
Só então ele vence.

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