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terça-feira, 2 de outubro de 2012

O ALMOÇO

O ALMOÇO

A hora é calma, vazia,
Mas a comida não é insossa;
Lá fora estão esburacando a rua,
Enquanto eu penso em mulheres nuas,
E como minha pêra doce,
Antepasto excêntrico, como os dias
Que preparam a morte...

Estou só, e almoço,
Numa cozinha tão despida de encantos,
E o instante a chamar-me à coerência,
A olhar somente à frente,
E esquecer passados prantos,
E superar os destroços
De minha indecifrável sorte...

Mas este momento revela mais em si:
Nele, materializa-se o inescapável,
A eterna lavra do quotidiano,
A religião sem nome do devir.

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