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sábado, 12 de outubro de 2013

MOMENTOS-CHAVE

Falei, no último post, em "momentos-chave". O que seriam eles? O que determina a sua especificidade?
Tentarei responder.
Na vida do dia a dia, são raras as situações em que algo de realmente vital está em jogo. Tudo bem, isso pode acontecer numa entrevista de emprego, e é uma coisa bem comum, entrevista de emprego. Nela, temos de vender o nosso peixe bem vendido, senão podemos nos ver em sérios problemas, até para comer. Mas, é possível barganhar com a situação, não dar de tudo para ela, não ceder demasiado, não trabalhar, não suar tanto assim. E assim são a maioria de nossas empreitadas: nós podemos nos esconder, ao menos parcialmente, delas; podemos só dar um tanto, guardando outro. Pois bem. Ocorre que nem sempre a coisa acontece desse jeito: há situações em que temos de nos armar com tudo o que temos, e expor o peito à espada do inimigo. Essa é uma característica do momento-chave. Cito como exemplo o caso do personagem de Will Smith no filme A procura da felicidade. 
Continuando, nos momentos "comuns" nos permitimos pequenas faltas morais, sabendo que seremos perdoados no tribunal da própria consciência. Nada de tão sério está em jogo, uma mentirinha aqui, um tropeço ali, um gole a mais, um beijo a mais, etc. Mas no momento-chave nada mais nada menos do que a vida, com tudo que nela há, é o que está em jogo. Cito dois exemplos históricos: o de Walter Benjamin, filósofo judeu alemão que se suicidou (com um tiro) para não ser capturado pelos nazistas, e o de Vercingetorix, líder da insurreição gaulesa em 52 a.C., que pôs a própria vida nas mãos de seus comandados, oferecendo-se como vítima expiatória a Júlio César, caso eles, seus comandados, decidissem não mais lutar. Eles o entregaram, de fato, e vivo, e Vercingetorix agonizou por lentos seis anos na prisão romana, até morrer, provavelmente estrangulado. Ora: temos aqui dois homens vivenciando momentos-chave por definição, momentos em que não há como barganhar, não há como "guardar uma carta na manga", pois temos de usar tudo, e tudo está em jogo.
Claro que sei que num mundo como o nosso, opaco, um momento dito "comum" pode gerar consequências de máxima importância, mas o fato é que isso não é uma mera possibilidade, estatisticamente pequena, no caso do momento-chave. Isso é, nesse caso, uma certeza. E como certeza não permite que nos enganemos e fujamos dela. Não há enganar-se. Não há fuga. Eis o momento-chave.


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