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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

ENGAJAMENTO LITERÁRIO, PARTE I

Começo a série de posts sobre o engajamento literário, série que tenho a intenção de honrar aqui no blog, discutindo a proposta de David Grossman, que ele formulou no Roda Viva, algum tempo atrás, mais ou menos da seguinte maneira: "escrevo não para fazer a pessoa se sentir bem, mas sim para destruí-la, porque dessa destruição surgirá algo de positivo, na necessidade que a pessoa terá de promover uma reconstrução".
Se poderia dizer que se trata de engajamento, da parte dele? Ou de irresponsabilidade? Vejamos.
A noção de engajamento tem um "ranço" político fortíssimo. Até hoje "literatura engajada" é fundamentalmente aquela que se coloca como promotora da Revolução Socialista (ou Anarquista, Comunista, enfim... as de esquerda), com mui variados graus de mediação. É então, forçosamente, uma forma de colocar-se a serviço do Bem-geral, de uma felicidade extensiva a quase todos, radicada no fim das opressões econômicas e seus correlatos (coloco aqui o projeto, que ainda existe, e não as suas realizações concretas, todas muito criticáveis). Ou seja, trata-se de literatura submetida, integrada numa proposta (numa esfera) mais ampla, que a contém e que dá a ela o seu principal sentido de ser. Impossível não lembrar do dulce et utile de Horácio, assim como é impossível não lembrar de toda a literatura de auto-ajuda. Há algo em comum entre o engajamento e as duas.
Ora, Grossman coloca-se essencialmente como alguém que constata a necessidade de um pensar diferente, da renovação como um valor-em-si. Ele não assume a verticalidade do engajamento tradicional (o posicionar-se "acima"); ao contrário, dá o martelo na mão do leitor, para que ele, o leitor, faça da ferramenta o uso que julgar adequado (a foice é usada para dilacerar o dono da mão que usará o martelo...). Se o leitor entrará para algum movimento político, ou se buscará a auto-ajuda, ou se mergulhará em tristezas e impotência, ou, enfim, se cometerá suicídio, não está de forma alguma garantido, e nem se pode dizer que seja almejado. O escritor assume o risco, que é radical, de uma tentativa de viabilização de um momento de liberdade plena, apoiado na ideia de reconstrução. Bem sabemos que isso é perigoso ao extremo...
É, todavia, uma maneira de ser útil, e assim se explica a referência a Horácio, e é também uma maneira de estimular a auto-ajuda (em sentido lato), embora de maneira não vertical, e de modo algum marcada por falsa sabedoria.
      

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