Pesquisar

domingo, 17 de abril de 2011

O CONCURSO, E O MALA

Aconteceu em 1992, no começo do ano: eu morava em Bacaxá - um distrito de Saquarema -, a duas horas de viagem do Rio de Janeiro, e meu padrasto - é isso o que ele sempre foi, embora na época eu julgasse que ele era meu pai... - participava de um festival de música em Niterói. Era um concurso: havia um corpo de jurados, e de um total de doze participantes, três se classificariam para a grande final. Lá fomos: eu, ele, e minha "mãe" (é difícil explicar o porquê das aspas, quem sabe um dia...). E agora é que entra o meu verdadeiro assunto: um dos concorrentes, o primeiro a se apresentar, era péssimo, mas põe péssimo nisso; a música era insossa, primária, ele tocava mal o violão, errava, cantava mal - ora semitonava, ora desafinava mesmo... - e a letra talvez fosse o pior de tudo; me lembro do refrão: "lute pela paz, não lute pela guerra, salvemos nossa terra", ou algo bem próximo disso. Era uma letra, por assim dizer, "cheia de causas": da paz mundial à preservação dos ecossistemas. Mas o que me intriga, e talvez eu deva dizer: me fascina, hoje, lembrando desse episódio, é o apoio, total, irrestrito, que algumas pessoas que estavam na platéia, provavelmente a família do tal concorrente, davam a ele, assoviando, batendo palmas, etc. O cara estava lá passando o maior ridículo, fazendo um papelão, e eu me pergunto: como será que a companheira dele - namorada, noiva, ou esposa - o via, através do "filtro do amor" (expressão horrível, de péssimo gosto, mas é que não me ocorre melhor...)? Será que ela gostava de verdade da música dele?... Ou será que o perdoava, por ele ser um cara legal, com outras qualidades, etc?... E como será que ele próprio se julgava?... Será que tinha ao menos um mínimo de consciência de que o que ele fazia não prestava?... Ou será que era cego para esse fato, talvez mesmo um tanto arrogante?... E se o fosse: mereceria, então, passar vergonha?... São várias as perguntas suscitadas por esse acontecimento, e eu sinto em dizer que não tenho resposta para nenhuma delas... Mas como me interessa, e me faz pensar, toda essa história!...

Nenhum comentário:

Postar um comentário