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quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Conto breve: O escorpião

ele pode estar nos armários, nas gavetas, debaixo do fogão, dentro das meias, dos sapatos... nem sempre me lembro de olhar, distraído com as minúcias do quotidiano, mas quando começo uma calmaria, uma não-preocupação, um não pensar em nada, não consigo sustentá-lo, ele me vem à mente, e com ele o medo, medo não: pavor, pânico, o pequenino ser, quase um autômato, quase desprovido de cérebro, surge em sua qualidade de déspota implacável, dono de minha vontade, eu, que sou infinitamente mais capaz e complexo do que ele... ele surge, em imagens detalhadas, em situações dessas de qualquer thriller, ficções que minha mente tece, para dar corpo, para pintar a dependência que me liga ao insignificante animal, dependência de sua não-aparição, de sua completa ausência, oxalá inexistência, se isso fosse possível... sempre preciso me concentrar, e esperar por um longo tempo sem a visão dele... quanto maior o tempo, mais fraca vai ficando a dependência... mas...

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